16/09/2025
A ideia de reduzir a jornada semanal de trabalho de cinco para quatro dias, sem diminuição de salário, deixou de ser apenas uma utopia futurista. Países como Islândia, Reino Unido, Espanha e Portugal já testaram ou estão testando modelos nesse formato, revelando ganhos significativos em produtividade, bem-estar e engajamento dos trabalhadores.
Estudos realizados no Reino Unido mostraram que 71% das empresas participantes dos testes registraram aumento da produtividade, mesmo com menos horas de expediente. Isso se explica porque a redução da jornada não significa trabalhar menos, mas sim trabalhar melhor: há mais foco, menos desperdício de tempo e um incentivo maior para resultados objetivos.
No Brasil, onde a carga horária semanal é tradicionalmente de 44 horas, adotar a jornada reduzida exigiria uma reestruturação dos métodos de gestão e acompanhamento do desempenho. Mas é inegável que a produtividade tende a crescer quando se equilibra tempo de trabalho e tempo de descanso.
Outro ponto central é a qualidade de vida. Uma semana de quatro dias de trabalho permite que o trabalhador tenha mais tempo para lazer, estudos, família ou até outras fontes de renda. Isso reflete diretamente na saúde mental, no engajamento e até na redução de afastamentos por doenças ocupacionais como a síndrome de burnout, já reconhecida pela Organização Mundial da Saúde.
No contexto brasileiro, marcado por longos deslocamentos e altos índices de estresse, a redução da jornada poderia significar um avanço importante na proteção da saúde do trabalhador, alinhando-se ao princípio constitucional da dignidade da pessoa humana.
Do ponto de vista jurídico, a mudança exigiria ajustes significativos na legislação. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) estabelece limites de jornada e prevê regras de compensação e banco de horas. Para viabilizar o modelo de quatro dias, seria necessário discutir questões sobre a contabilização de horas extras; o impacto nos contratos de trabalho, e a adaptação das convenções e acordos coletivos.
Além disso, é fundamental garantir que a redução da jornada não resulte em sobrecarga nos dias trabalhados, o que poderia anular os ganhos esperados em saúde e produtividade.
Se por um lado a ideia parece distante em um país com altas taxas de informalidade e desafios estruturais, por outro ela já começa a ser pauta em debates sobre o futuro do trabalho no Brasil. A experiência internacional mostra que reduzir a jornada pode ser vantajoso tanto para empresas quanto para trabalhadores, desde que haja equilíbrio, planejamento e respaldo legal.
Mais do que uma tendência, a jornada de quatro dias é um convite a repensar a forma como organizamos o trabalho: menos tempo à disposição não significa menos resultados - pelo contrário, pode representar mais eficiência, mais saúde e mais respeito aos direitos fundamentais do trabalhador.